quinta-feira, janeiro 24, 2013

Exposição "Tapetes de Arraiolos" inaugura na Galeria da Casa de Burgos



No próximo dia 24 de janeiro, pelas 18h, inaugura na Galeria de Exposições da Casa de Burgos, em Évora,  a exposição "Tapetes de Arraiolos", organizada pela Direção Regional de Cultura do Alentejo e Câmara Municipal de Arraiolos, com apoio do Município de Portalegre, Museu Nacional de Arte Antiga, Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, Museu de Évora e Centro Hércules.
No âmbito da exposição que estará patente até dia 28 de fevereiro, realizar-se-ão duas conferências:

31 de janeiro - 18h - À Redescoberta dos Materiais dos Tapetes de Arraiolos, proferida por Cristina Dias, Professora de Química da Universidade de Évora e responsável/investigadora do Laboratório Hércules;
14 de fevereiro - 18h - proferida por Teresa Pacheco Pereira, conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga.
Horário para visita:Dias úteis das 9h às 12h30 e das 14h às 18h00 - Entrada livre

Mais informação
Os tapetes de Arraiolos são uma ancestral expressão artística produzida através de técnicas artesanais. Uma arte ornamental que se perpetuou no tempo e que constitui uma das grandes referências das artes decorativas portuguesas.
A OrigemDa sua origem histórica apenas se tem como indubitável que foi na vila de Arraiolos que se iniciou a produção. Os testemunhos mais remotos do bordado arraiolense são exemplares com datação atribuída ao século XVII e uma referência documental de 1598.
Ao longo do século XX, alguns autores apresentaram teses explicativas da origem dos tapetes de Arraiolos, embora nenhuma fundamentada em provas documentais, sendo apenas substanciadas em inferições dos próprios autores assentes em possíveis indícios e hipóteses históricas. De entre as várias teses conhecidas, a mais consistente é a de que teriam sido mouros convertidos ao Cristianismo a bordar os primeiros tapetes de Arraiolos.
Nos séculos XIV e XV, na comuna muçulmana de Lisboa, há registo da existência de tapeteiros mouros que pela qualidade do seu trabalho recebiam benesses e usufruíam de privilégios atribuídos pelos monarcas portugueses. Aos nossos dias não chegaram exemplares nem descrições dos tapetes produzidos por esses tapeteiros, pelo que se presume, com base no que se sabe sobre tapeteiros coevos de Castela, que fariam tapetes de nós, tecidos em teares e com desenhos e esquemas decorativos influenciados pelos tapetes turcos que no século XIV começaram a chegar à Europa via porto de Veneza e daí foram reexportados para a Península Ibérica.
Após 1496, ano em que D. Manuel I decretou a expulsão do território português ou conversão ao Cristianismo de mouros e judeus, não há conhecimento de qualquer documento que faça referência aos tapeteiros mouros de Lisboa. Esse facto e a nítida influência de desenhos e motivos orientais nos tapetes de Arraiolos mais antigos espoletou a teoria de que esses tapeteiros, como de facto aconteceu com muitos judeus e muçulmanos convertidos ao Cristianismo, teriam migrado para Sul, historicamente mais tolerante a nível religioso, e se teriam estabelecido em Arraiolos. Assim, com base nesta teoria, teriam sido muçulmanos convertidos ao Cristianismo, cristãos-novos, a dar início à produção de tapetes de Arraiolos. Para justificação dos tapetes serem bordados e não de nós, surgiu o credível argumento de que teriam optado por não manter uma técnica que poderia ser associada à sua anterior cultura, uma medida de salvaguarda muito usual nas minorias convertidas.
Evolução decorativaPara se fazer uma análise à evolução histórica da decoração dos tapetes de Arraiolos é obrigatório que o ponto de partida sejam os tapetes com datação mais antiga, os exemplares do século XVII.

Os tapetes de Arraiolos seiscentistas tiveram os tapetes turcos e, principalmente, os tapetes persas existentes em solo português como grandes fontes de inspiração, tal como as colchas indo-portuguesas e alguns padrões azulejares. Também os tapetes "indo-persas", de produção indiana, e algumas decorações de tapetes espanhóis terão influenciado a produção de exemplares arraiolenses, no entanto, tanto os tapetes indianos como os espanhóis são também eles inspirações persas e turcas, respetivamente, pelo que terão sido fontes de difusão daquelas decorações, mas não influências decorativas diretas e originais. Mas o orientalismo foi somente uma fonte inspiradora, pois o bordado arraiolense não produziu cópias, apenas aproveitou desenhos, padrões e motivos decorativos orientais, tendo sempre uma premissa determinante: a recriação livre dos pressupostos estéticos e estilísticos da arte oriental.

A primeira metade do século XVIII foi um período de transição no que se refere às composições decorativas e desenhos produzidos. Houve um gradual afastamento das influências orientais, em que apesar de se manter a utilização de motivos e esquemas decorativos de inspiração oriental, começam simultaneamente a surgir motivos decorativos de feição local. Obviamente que essas alterações decorativas e estéticas nos desenhos dos tapetes de Arraiolos não foram mudanças bruscas, foi uma tendência, um processo progressivo.

Quando chegamos à segunda metade do século XVIII, os desenhos orientais desaparecem quase por completo das composições e alguns motivos decorativos de origem oriental surgem estilizados, com formas e dimensões diferentes das tradicionais. A essa época, em que houve um drástico afastamento dos cânones tradicionais de inspiração oriental e em que a esquematização decorativa dos tapetes provinha quase exclusivamente da criatividade das pessoas de Arraiolos, é comum chamar-se "Período Popular", o qual se pode balizar entre 1750 e finais do século XIX.

No final do século XIX, a produção de tapetes de Arraiolos atravessou uma fase crepuscular, tendo estado perto da total extinção. As tapeteiras eram cada vez menos e a produção era quase inexistente. É então que, em 1897, tem início um processo levado a cabo por colecionadores e apreciadores de arte da alta burguesia que veio a ser denominado de "ressurgimento do tapete de Arraiolos", incentivando-se a produção de novos exemplares e a sua divulgação. Esse processo de "ressurgimento" viria a ter em 1917 o seu mais importante evento, com a realização de uma grande exposição de tapetes de Arraiolos no Convento do Carmo, em Lisboa.

Com toda essa dinâmica do início do século XX, o número de tapeteiras aumentou e nos anos que se seguiram bordaram-se muitos tapetes. Copiaram-se exemplares de outras épocas e criaram-se novos desenhos, embora não se possa afirmar que haja um estilo artístico ou tipologias de desenhos característicos do "ressurgimento".


http://www.cultura-alentejo.pt/destaques,0,2162.aspx - 2013-01-24

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Ernida de São Romão


Está situada no antigo Rossio da vila, actual Praça da Republica. É talvez a mais antiga das ermidas da terra.
Edifício dos alvores do quinhentismo, no ano de 1572 tinha nartex e nave gótica, mas no princípio do século XVII sofreu importantes modificações originada, talvez pela ruína desses corpos.
Segundo o mesmo autor, é notoriamente um exemplar com traços marcados da arquitectura alentejana. Composta por empena triangular fortemente rebocada a cal, portado granítico, ornado superiormente por obra de estuque relevada, barroca; adro composto por três degraus em granito, como se pode constatar na foto.
O seu interior encontra-se a nave, de forma rectangular, coberta de tecto redondo, guarnecida de caixotões quadrangulares, de desenho clássico dos últimos anos do quinhentismo.
A capela-mor de secção retângula, precedida de arco de volta perfeita, é vestígio gótico-manuelino arcaizante.
            O altar, de estuque policromado é obra tardia do século XVIII, com colunata do estilo coríntio e frontão recortado e de desenho de certa pompa, conserva, na parte central a padroeira Nossa Senhora dos Remédios, lateralmente, em nichos adosselados, as imagens de madeira estofada de São Romão e Santo António, ambas vulgares mas muito antigas.



Coordenadas: 38º43´23.38´´N
                        7º59´05.10´´N


Casa do Capitão-Mor

Situada na Praça da Republica, foi edificada, muito possivelmente, nos finais do século XVIII, contribuindo para a renovação arquitectónica do Rossio, espaço que comunga com a ermida de São Romão.
          Esta foi edificada para residência do Capitão-Mor de Arraiolos, Manuel José Mendes de Carvalho.
          Serviu, também, nos princípios de novecentos de casa da Mala-Posta.
          Em 1956, o rés-do-chão do edifício foi ocupado pelos Bombeiros Voluntários.
          Desde Dezembro de 2001, acolhe a Biblioteca Municipal de Arraiolos.
         É um exemplo da arquitectura civil da época. Constituída por uma planta rectangular, configuração simples. A fachada principal que se pode ver na foto, os vãos concentram-se ao centro da laçada, alinhando-se as portas e janelas do piso térreo com as janelas de sacada do andar superior. No alçado lateral, destaca-se a porta central, com duas janelas de linhas recta. As cornijas que rematam as janelas são os únicos elementos de destaque do edifício. A alçada posterior abre-se para um pátio de pequenas dimensões.


Coordenadas: 38º43´23.91´´N
                        7º59´03.56´´O

quarta-feira, janeiro 16, 2013

IGREJA DE SÃO GREGÓRIO

Está situada num sítio altaneiro a cerca de 1500 metros da banda esquerda da EN N.º4.
A sua fundação é antiga e foi erecta na Herdade da Comenda de Mendo Marques, conforme se refere a composição celebrada em 1524, entre a ordem do templo e o Cabido da Sé de Évora, pela qual os colonos deviam pagar os dízimos à donatária e a terça pontifical e os direitos de apresentação à Sé. Após a extinção daquela célebre Milícia Militar, a comenda passou para a ordem de Cristo, segundo homologação do rei D. Dinis.
   O frontispício é composto no corpo axial, por campanário setecentista, apilastrado. Via-sacra de mármore, aparentemente do séc. XVII. Porta singela, de vergas escaioladas, cronografada de 1632. A nave da capela-mor, de tecto de meio canhão com filetes de quadriculados e branqueados, e o presbitério é de fecho cupuliforme.
O baptistério, de planta quadrada, com cúpula de meia laranja, é fechado por grade de ferro forjado, do séc. XVII .
Gradeamento de ferro batido que isola o santuário é exemplo típico do seiscentismo, com cancela cilíndrica sobrepujadas por maçanetas piriformes.
O cruzeiro situa-se no adro, é mármore branco de Estremoz, assente em três degraus de granito,  cuja base é ornamentada com crânios e tíbias esculpidas.








Ao fundo pode-se ver a vila de Arraiolos com seu castelo altaneiro.





quinta-feira, janeiro 10, 2013

Rua da Cruz por Eduardo Salavisa

Rua da Cruz por Eduardo Salavisa
Coordenadas: 38º43´26.62´´N
                        7º59´14.61´´O

http://diario-grafico.blogspot.pt/search?q=Arraiolos - 2013- 01-10




Eduardo Salavisa: Nasceu em Lisboa onde vive e trabalha. Andou pela Escola de Belas Artes de Lisboa onde se licenciou em Design de Equipamento por volta de 1980. Trabalhou em Design Industrial, concebendo algumas peças que depois eram produzidas, em reduzido número, e comercializadas. As que lhe deram mais gozo foram uns brinquedos de madeira. Devido a vários condicionalismos, o Design deixou-lhe algumas desilusões, dedicando-se mais à pintura. Fez algumas exposições, de pintura e de desenho, sendo sobretudo o desenho que o interessa pelo seu carácter experimental e por ser mais um processo que um resultado. Por esta razão começou a interessar-se pelos Diários de Viagem, ou Gráficos, pelo registo sistemático do quotidiano, pelo seu carácter lúdico e simultaneamente didáctico. É professor no ensino secundário na Escola Secundária Pedro Nunes, em Lisboa. Além de fazer o seu próprio Diário, não só em viagem mas quotidianamente, estuda os de outros autores, utilizando-os nas suas aulas e nas de outros professores (ver escolas).
http://www.diariografico.com/htm/biografia.htm - 2013-01-10



terça-feira, janeiro 08, 2013

ARRAIOLOS - TAPETE VOADOR

Levámos o escritor, e alentejano de gema, José Luís Peixoto até um dos lugares mais esplêndidos da planície mágica de Portugal. Se o Alentejo fosse um livro, Arraiolos ocuparia uns quantos capítulos.

Capítulo I – Revelações
Agora entendemos. Entendemos porque é que ele diz: “Se eu não tivesse crescido no Alentejo, provavelmente não teria começado a escrever. Escrever exige tempo. Escrever exige que se respire”.
Sem noção das horas, inspiramos o ar fresco da noite sob um céu estrelado capaz de fazer corar de inveja o céu do Saara. Estamos no Alentejo, em Arraiolos, não muito longe de Galveias, a terra que viu nascer (e crescer) José Luís Peixoto, escritor, dramaturgo, letrista, cronista, enfim, um homem de palavras. No correr da noite, fazemos contas ao dia.
Saímos de Lisboa pela fresca e em pouco mais de uma hora estávamos no Villa Extramuros, o nosso hotel para estes dias. Ideia do parisiense François, que de bom grado trocou as grandes boulevards à beira do Sena por um punhado de sobrado no Alentejo, este pequeno hotel de delícias terrenas foi construído entre oliveiras e a paz é tanta que nem os mosquitos parecem querer ferrar o dente em ninguém.
Por falar em ferrar o dente, às 13h30 em ponto, chegámos à Pousada da Nossa Senhora da Assunção, construída no séc. XVI para a Ordem de Santo Elói. Entramos pela igreja, pegada ao velho convento de estilo barroco, para ver os lindos painéis de azulejos azuis e brancos e seguimos pelos claustros enfeitados com tapetes de Arraiolos dignos do melhor museu de artes decorativas. Diz a lenda que algures por ali há uma passagem secreta que vai dar ao Castelo de Arraiolos. Mas não precisamos de nos meter por esses atalhos para ter o monumento por nossa conta: ele entra pelos janelões do restaurante da pousada adentro. Saiu-nos na rifa chegar em plena semana gastronómica do borrego e por isso, foi ele o alvo de todos os nossos “hums” de contentamento e discretas lambidelas de beiços. Sim, discretas! Porque a educação não tira férias, nem quando o borrego a isso obriga.
Com o sol ainda a queimar, seguimos até à autoproclamada “aldeia mais caricata de Portugal”. O artesão Tiago Cabeça é o cérebro e as mãos desta aldeia em miniatura, onde os figurões, os costumes, os clichés e as cenas da vida real de Portugal são retratados ironicamente. José Luís compara-a a uma versão 3D de Onde Está o Wally?
Um pouco mais tarde, chegamos à Herdade da Amendoeira, velha abegoaria que hoje é um espaço de agro-turismo. Passamos pela queijaria e ficamos a saber como se fazem os queijos frescos, os curados e os requeijões da herdade. De seguida, sentimo-nos inebriados com o aroma a funcho, amêndoas, orégãos e anis da destilaria da Amendoeira onde se produzem os famosos licores de poejo, de granito e a amarguinha d’Amendoeira. Só depois nos mascaramos de Alberto Caeiro, o mais bucólico dos heterónimos de Fernando Pessoa, e nos deixamos levar pelos cantos e encantos da herdade onde andam à solta coelhos, perdizes, javalis, gamos e também enormíssimos e pachorrentos touros limusine. Caminhando pelo montado fora chegamos à Pedra da Vigia, onde José Luís, empoleirado no alto da dita, desabafa deslumbrado: “Olhem que esta paisagem de fim de tarde não fica nem um pouco atrás de um cartão-postal do Botswana”.

A jornada não podia dar-se por terminada sem nos sentarmos à mesa do restaurante A Moagem na companhia de Jerónimo Lóios, presidente da câmara de Arraiolos, que nos explica tintim-por-tintim como apareceu o inovador sistema de iluminação LED do centro histórico da vila. “A ideia surgiu numa assembleia onde se discutia a requalificação do centro histórico da nossa terra. A renovação da luminária pública era um dos temas sobre a mesa e a propósito dele alguém sugeriu que apostássemos na tecnologia LED (em português, DEL – díodo emissor de luz). Levámos a coisa avante e hoje não só poupamos muita energia e damos uma luz mais amiga à vila, como ganhámos um prémio internacional com a iniciativa.” Apesar de magníficos, a salada de polvo e a de ovas, os cogumelos recheados e os ovos com espargos não foram suficientes para nos calar a gula. Foi preciso chamar reforços da cozinha tradicional e autêntica de João Maria Pombinho. Só depois do gaspacho alentejano com carapauzinhos fritos e das costeletas de borrego com migas à carvoeiro é que nos damos por satisfeitos.
E assim, regalados, eis-nos ao relento no terraço do Extramuros, de almas e barrigas cheias com o que de melhor o Alentejo nos pode dar. A overdose de tempo e de ar é tanta que nos sentimos capazes de escrever, assim quase do pé para a mão, uma ode a esta terra. Antes de cair às mãos de Morfeu, José Luís ainda comenta com o fotógrafo de serviço: “E aquela foto com os touros no campo, António? Os meus filhos vão delirar quando a virem”.
Capítulo II – Vamos juntos ver o mundo
Como José Luís – ou José Luís como eles… –, também Faulkner e Bukowski, dois dos seus escritores favoritos, têm no Sul o norte da sua obra. No caso de Peixoto, o sul é o Alentejo, protagonista de grande parte das palavras que saíram da sua pena para acabar encadernadas em estantes de todo o mundo. Como José Luís – ou José Luís como eles… –, também os romances Uma Casa na Escuridão ou Nenhum Olhar, “falam do Alentejo em sítios onde mal se conhece Portugal”. E esta tarefa, a de ir até onde vão os seus livros (e mais além, até), é o motivo pelo qual José Luís passa boa parte do ano a viajar pelo mundo inteiro. Mas isso não lhe rouba tempo à escrita, até porque como o próprio confessa, tem sempre um texto a ocupar-lhe a cabeça. Um texto que se lhe vai escrevendo independentemente de tudo o resto. Imaginamos o que é que lhe vai na cabeça agora que o escritor trota mundos ciranda pelas vielas caladas e alvas do centro de Arraiolos. Será que está a cozinhar uma história inspirada no magnífico castelo redondo da vila? Ou estará a magicar acerca da lenda da “Sempre Noiva”, sobre uma donzela que tanto esperou que o noivo voltasse da guerra que acabou por entrar na igreja com a cara tapada por um tapete de Arraiolos para esconder as maldades que os anos lhe fizeram à beleza?

Emaranhados na teia de ruelas, acabamos por desaguar na Praça do Município. É aí que entramos nos Paços do Concelho para conhecer a obra de Dórdio Gomes, pintor arraiolense que se deixou levar pela onda pós-impressionista de Paul Cézanne para criar lindas telas sobre a terra que o viu nascer. Uma delas retrata as habilidosas bordadeiras que fazem os mundialmente famosos tapetes de Arraiolos. Os ditos, que valeram à vila o cognome de “Capital do Tapete”, apareceram algures no século XVI e são bordados em lã sobre juta, algodão ou linho. Nos coloridos tapetes, herança da arte mourisca, brilham motivos florais e manuelinos, figuras animais e outros arabescos dispostos numa simetria impressionante. Vemo-los ao vivo e a cores numa das muitas casas de tapetes da vila e é aí que José Luís atira ao ar: “este ‘Fim-de-Semana Perfeito’ tem tudo para se chamar ‘Tapete Voador’”. Tomamos nota.
Daqui descolamos – sem um tapete voador debaixo dos pés, porém – para o Vimieiro, pequena vila do concelho de Arraiolos. No restaurante e casa-museu Antiga Moagem descobrimos umas pataniscas de bacalhau e uns secretos de porco preto de comer e chorar por mais e vemos como funcionava, no século XIX, a velha fábrica de moagem do Vimeiro. Não muito longe daqui, fica o Centro Interpretativo do Mundo Rural, apetrechado com as alfaias e memórias fotográficas de cenas do campo, como a apanha da azeitona, a tosquia ou a ceifa. José Luís conhece boa parte destes tesouros etnográficos de ginjeira, ainda assim, não resiste a disparar o seu telefone travestido de máquina fotográfica em todas as direcções. Antes de sairmos, damos com o escritor boquiaberto a mirar um macaco ancestral para mudar rodas às carroças.
No Monte da Ravasqueira as carroças são de luxo. José Mello, empresário e apaixonado pela vida equestre, coleccionou ao longo da sua vida arreios de carros de atrelagem de diferentes épocas e estilos. A colecção é de deixar os olhos em bico. Há uma mala-posta (diligência, se preferirem) irrepreensivelmente restaurada, há um atrelado preparado para caçadas (em verde tropa, comme il faut!) que parece um esboço de um todo-o-terreno Land Rover e até existe uma atrelagem que foi táxi em Cascais, quando a palavra “motor” ainda não constava do dicionário. Seguimos deste pequeno museu até à adega da quinta para provar os melhores néctares da sua safra. O MR Premium e o Vinha das Romãs são apenas dois dos muitos vinhos com rótulo da Ravasqueira que fazem jus à reputação internacional dos vinhos alentejanos.
Fama tem também o restaurante O Alpendre onde jantamos. São famosas as suas migas, o seu borrego e o seu bacalhau escondido dentro de um pão caseiro. É célebre o seu ar castiço e o atendimento à boa moda alentejana, sinónimo de um sorriso de orelha a orelha.
José Luís também tem um sorriso na cara. Está feliz como um rapaz que apresenta à mãe a mulher dos seus sonhos. A mulher que tem sempre um brilhozinho nos olhos e um sorriso nos lábios. Aquela que tem a beleza, o charme e o encanto natural de uma diva e que, ainda por cima, sabe cozinhar. Se calhar está na hora de mudar o substantivo Alentejo para o género feminino.






http://upmagazine-tap.com/pt_artigos/arraiolos-%E2%80%93-tapete-voador/ - 2013-01-08

Breve Referência Histórica do Concelho de Arraiolos

   A notícia mais recuada da povoação e território de Arraiolos é de 1217, ano de doação dos mesmos ao bispo de Évora e ao Cabido pelo rei D. Afonso II. Então faziam parte do vasto termo eborense, nascido da reconquista, o qual se prolongava, a Norte, até Avis. A doação régia inclui o direito do donatário edificar um castelo. A concessão veio, no entanto, a ser contestada por D. Afonso III, que pretendia recuperar este território para a Coroa. A pretensão abrange o Vimieiro, inicialmente parte do território arraiolense, mas que o bispo D. Martinho Peres desanexara, com a concessão do respectivo foral, em 1257. Após um longo litígio, em 1271, a vila e termo de Arraiolos, assim como Vimieiro, regressam à posse do rei, através de um acordo que atribuía, no entanto, ao bispo do cabido, o padroado das igrejas neles existentes e os respectivos direitos espirituais.
   Contudo, antes de morrer, o monarca declarou devolver várias terras à igreja, entre as quais, Arraiolos e Vimieiro, para resolver os seus problemas que o opunham à Santa Sé. No entanto, o seu filho não cumpriu a sua vontade. D. Dinis, pelo contrário, tomou algumas medidas demonstrativas do poder régio da vila e seu termo.
   A vila não chegou a estar, um século sobre o poder directo da Coroa. D. Pedro I veio a entregá-la a Rodrigo Afonso de Sousa, filho de Afonso Dinis, que era filho bastardo de D. Afonso III. A concessão foi renovada por D. Fernando, em 1367, logo depois de herdar o trono. Como o donatário não teve descendentes legítimos, foi cedido, após a sua morte, ao conde de Viana D. Álvaro Pires de Castro, irmão de Dona Inês de Castro, segundo Fernão Lopes por interferência da Rainha D. Leonor, juntamente com título de conde de Arraiolos.
   O primeiro conde de Arraiolos, era de origem castelhana, foi também alcaide-mor de Lisboa e o primeiro condestável[1] do reino. A sua presença em Arraiolos, com comitivas numerosas, devia de ser frequente, atendendo aos protestos da população, pelo abusos que eram cometidos. Como os paços do castelo, não eram suficiente para albergar todos, estes, instalavam-se pelas casas dos moradores, fazendo uso de suas roupas, utensílios e animais domésticos, cevada….
   Contudo as vozes da população fizeram-se ouvir junto ao rei, concluindo-se o acordo com o conde, que o monarca ratificou em 1380.
   A vila voltou ao domínio directo da Coroa. Porém, a 30 de Agosto, o Rei, D. João entregou-a a um novo senhor, Fernão d´Álvares Pereira, em recompensa dos bons serviços prestados na guerra contra os castelhanos. Contudo, o mesmo, não viveu para exercer o senhorio das terras, pois morreu com apenas 24 anos, foi morto durante a tentativa de conquista de Vila Viçosa, que estava nas mãos de castelhanos.
   Nuno Álvares Pereira foi o segundo conde de Arraiolos, condestável do reino e principal apoiante do mestre de Avis na guerra com Castela.
   O terceiro duque de Bragança, D. Fernando III, foi o quarto conde de Arraiolos. Contudo, este abusava, dos habitantes da vila, quando se deslocava à mesma. D. Afonso V, prometeu fazer guardar os privilégios da população. D. João II levou este donatário (Nuno Pereira) à execução na Praça Grande de Évora, em 1483 e à perda de seus bens por se opor às suas centralista.
A vila volta novamente à Coroa, que seguidamente, foi cedida em donatária a um novo senhor, Pêro Jusarte.
   D. Manuel I, logo depois de subir a trono e como forma de pacificar o Estado, fortalecido já com a política do antecessor, reintegrou a Casa de Bragança nas antigas honras, títulos e bens. A 16 de Agosto de 1496 confirmou a D. Jaime, novo duque, a posse do condado de Arraiolos e dos respectivos direitos e rendas. O anterior donatário teria sido compensado, pela perda do senhorio, com outras mercês. O mesmo sucederia com D. João II que, em 1542, reconheceu ao duque D. Teodoro a posse do mesmo cargo. Por isso, o condado de Arraiolos e seu termo viria a permanecer, no futuro, integrado na casa dos duques de Bragança.
   A população vivia no castelo, mas por ser um lugar um pouco inóspito, a população toucou pelos arrabaldes do castelo. Pois a área exterior ao castelo era maior, onde podiam construir casa maior, com quintais maiores, mais acessível para quem vivia de actividades dependentes do tráfego regional e inter-regional, da terra.
   A vila teve sempre muitas pessoas com profissões ligadas ao artesanato, como constata o Lançamento das Sisas de 1573-74. Neste, estão registadas a profissão de 114 moradores, onde 75% se dedicam ao sector do artesanato (cardador, manteiro, pisoeiro, surrador, tecelão, tintureiro e tosador), ligados à produção de tecidos 32 profissionais, 18 sapateiros). A importância da tecelagem pode-se avaliar pelo número dos seus praticantes, como já foi referenciado anteriormente.
   Também um inventário de bens, ela adquire realce, pois é frequente encontrar-se teares entre bens inventariados em casa de moradores da vila  de localidades do termo.
   As posturas camarárias regulavam estritamente as várias fases da produção de pano. Obrigando os tecelões a fazer os tecidos com "tanto fiado para a tecedura como foi o da urdedura" para evitar o "muito engano" que havia nessa matéria, sobretudo nos panos que os trapeiros mandavam fabricar para vender. Aos tecelões era também impedido entregar directamente aos pisoeiros os panos que tinham tecido, excepto com autorização dos donos dos mesmos.                   



[1] Condestável - do Lat. comes, companheiro + stabuli, do estábulo s. m., nome que se dava antigamente ao chefe supremo do exército; chefe de artilheiros; antigo intendente das cavalariças reais; título do infante que, nas grandes solenidades, se colocava ao lado do trono real; escudeiro-mor.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Teatro pelo CENDREV

http://www.cm-arraiolos.pt/pt/conteudos/eventos/Teatro%20pelo%20CENDREV.htm - 2013-01-07
Coordenadas: 38º43´27.71´´N
                       7º59´04.20´´O

Exposição - Saúde da Mulher


Coordenada: 38º43´23.89´N
                   7º59´03.61´´O

http://www.cm-arraiolos.pt/pt/conteudos/eventos/Exposicao.htm - 2013-01-07




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