No próximo dia 24 de janeiro, pelas 18h, inaugura na Galeria de Exposições da Casa de Burgos, em Évora, a exposição "Tapetes de Arraiolos", organizada pela Direção Regional de Cultura do Alentejo e Câmara Municipal de Arraiolos, com apoio do Município de Portalegre, Museu Nacional de Arte Antiga, Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, Museu de Évora e Centro Hércules.
No âmbito da exposição que estará patente até dia 28 de fevereiro, realizar-se-ão duas conferências:
31 de janeiro - 18h - À Redescoberta dos Materiais dos Tapetes de Arraiolos, proferida por Cristina Dias, Professora de Química da Universidade de Évora e responsável/investigadora do Laboratório Hércules;
31 de janeiro - 18h - À Redescoberta dos Materiais dos Tapetes de Arraiolos, proferida por Cristina Dias, Professora de Química da Universidade de Évora e responsável/investigadora do Laboratório Hércules;
14 de fevereiro - 18h - proferida por Teresa Pacheco Pereira, conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga.
Horário para visita:Dias úteis das 9h às 12h30 e das 14h às 18h00 - Entrada livre
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Os tapetes de Arraiolos são uma ancestral expressão artística produzida através de técnicas artesanais. Uma arte ornamental que se perpetuou no tempo e que constitui uma das grandes referências das artes decorativas portuguesas.
A OrigemDa sua origem histórica apenas se tem como indubitável que foi na vila de Arraiolos que se iniciou a produção. Os testemunhos mais remotos do bordado arraiolense são exemplares com datação atribuída ao século XVII e uma referência documental de 1598.
Ao longo do século XX, alguns autores apresentaram teses explicativas da origem dos tapetes de Arraiolos, embora nenhuma fundamentada em provas documentais, sendo apenas substanciadas em inferições dos próprios autores assentes em possíveis indícios e hipóteses históricas. De entre as várias teses conhecidas, a mais consistente é a de que teriam sido mouros convertidos ao Cristianismo a bordar os primeiros tapetes de Arraiolos.
Nos séculos XIV e XV, na comuna muçulmana de Lisboa, há registo da existência de tapeteiros mouros que pela qualidade do seu trabalho recebiam benesses e usufruíam de privilégios atribuídos pelos monarcas portugueses. Aos nossos dias não chegaram exemplares nem descrições dos tapetes produzidos por esses tapeteiros, pelo que se presume, com base no que se sabe sobre tapeteiros coevos de Castela, que fariam tapetes de nós, tecidos em teares e com desenhos e esquemas decorativos influenciados pelos tapetes turcos que no século XIV começaram a chegar à Europa via porto de Veneza e daí foram reexportados para a Península Ibérica.
Após 1496, ano em que D. Manuel I decretou a expulsão do território português ou conversão ao Cristianismo de mouros e judeus, não há conhecimento de qualquer documento que faça referência aos tapeteiros mouros de Lisboa. Esse facto e a nítida influência de desenhos e motivos orientais nos tapetes de Arraiolos mais antigos espoletou a teoria de que esses tapeteiros, como de facto aconteceu com muitos judeus e muçulmanos convertidos ao Cristianismo, teriam migrado para Sul, historicamente mais tolerante a nível religioso, e se teriam estabelecido em Arraiolos. Assim, com base nesta teoria, teriam sido muçulmanos convertidos ao Cristianismo, cristãos-novos, a dar início à produção de tapetes de Arraiolos. Para justificação dos tapetes serem bordados e não de nós, surgiu o credível argumento de que teriam optado por não manter uma técnica que poderia ser associada à sua anterior cultura, uma medida de salvaguarda muito usual nas minorias convertidas.
Ao longo do século XX, alguns autores apresentaram teses explicativas da origem dos tapetes de Arraiolos, embora nenhuma fundamentada em provas documentais, sendo apenas substanciadas em inferições dos próprios autores assentes em possíveis indícios e hipóteses históricas. De entre as várias teses conhecidas, a mais consistente é a de que teriam sido mouros convertidos ao Cristianismo a bordar os primeiros tapetes de Arraiolos.
Nos séculos XIV e XV, na comuna muçulmana de Lisboa, há registo da existência de tapeteiros mouros que pela qualidade do seu trabalho recebiam benesses e usufruíam de privilégios atribuídos pelos monarcas portugueses. Aos nossos dias não chegaram exemplares nem descrições dos tapetes produzidos por esses tapeteiros, pelo que se presume, com base no que se sabe sobre tapeteiros coevos de Castela, que fariam tapetes de nós, tecidos em teares e com desenhos e esquemas decorativos influenciados pelos tapetes turcos que no século XIV começaram a chegar à Europa via porto de Veneza e daí foram reexportados para a Península Ibérica.
Após 1496, ano em que D. Manuel I decretou a expulsão do território português ou conversão ao Cristianismo de mouros e judeus, não há conhecimento de qualquer documento que faça referência aos tapeteiros mouros de Lisboa. Esse facto e a nítida influência de desenhos e motivos orientais nos tapetes de Arraiolos mais antigos espoletou a teoria de que esses tapeteiros, como de facto aconteceu com muitos judeus e muçulmanos convertidos ao Cristianismo, teriam migrado para Sul, historicamente mais tolerante a nível religioso, e se teriam estabelecido em Arraiolos. Assim, com base nesta teoria, teriam sido muçulmanos convertidos ao Cristianismo, cristãos-novos, a dar início à produção de tapetes de Arraiolos. Para justificação dos tapetes serem bordados e não de nós, surgiu o credível argumento de que teriam optado por não manter uma técnica que poderia ser associada à sua anterior cultura, uma medida de salvaguarda muito usual nas minorias convertidas.
Evolução decorativaPara se fazer uma análise à evolução histórica da decoração dos tapetes de Arraiolos é obrigatório que o ponto de partida sejam os tapetes com datação mais antiga, os exemplares do século XVII.
Os tapetes de Arraiolos seiscentistas tiveram os tapetes turcos e, principalmente, os tapetes persas existentes em solo português como grandes fontes de inspiração, tal como as colchas indo-portuguesas e alguns padrões azulejares. Também os tapetes "indo-persas", de produção indiana, e algumas decorações de tapetes espanhóis terão influenciado a produção de exemplares arraiolenses, no entanto, tanto os tapetes indianos como os espanhóis são também eles inspirações persas e turcas, respetivamente, pelo que terão sido fontes de difusão daquelas decorações, mas não influências decorativas diretas e originais. Mas o orientalismo foi somente uma fonte inspiradora, pois o bordado arraiolense não produziu cópias, apenas aproveitou desenhos, padrões e motivos decorativos orientais, tendo sempre uma premissa determinante: a recriação livre dos pressupostos estéticos e estilísticos da arte oriental.
A primeira metade do século XVIII foi um período de transição no que se refere às composições decorativas e desenhos produzidos. Houve um gradual afastamento das influências orientais, em que apesar de se manter a utilização de motivos e esquemas decorativos de inspiração oriental, começam simultaneamente a surgir motivos decorativos de feição local. Obviamente que essas alterações decorativas e estéticas nos desenhos dos tapetes de Arraiolos não foram mudanças bruscas, foi uma tendência, um processo progressivo.
Quando chegamos à segunda metade do século XVIII, os desenhos orientais desaparecem quase por completo das composições e alguns motivos decorativos de origem oriental surgem estilizados, com formas e dimensões diferentes das tradicionais. A essa época, em que houve um drástico afastamento dos cânones tradicionais de inspiração oriental e em que a esquematização decorativa dos tapetes provinha quase exclusivamente da criatividade das pessoas de Arraiolos, é comum chamar-se "Período Popular", o qual se pode balizar entre 1750 e finais do século XIX.
No final do século XIX, a produção de tapetes de Arraiolos atravessou uma fase crepuscular, tendo estado perto da total extinção. As tapeteiras eram cada vez menos e a produção era quase inexistente. É então que, em 1897, tem início um processo levado a cabo por colecionadores e apreciadores de arte da alta burguesia que veio a ser denominado de "ressurgimento do tapete de Arraiolos", incentivando-se a produção de novos exemplares e a sua divulgação. Esse processo de "ressurgimento" viria a ter em 1917 o seu mais importante evento, com a realização de uma grande exposição de tapetes de Arraiolos no Convento do Carmo, em Lisboa.
Com toda essa dinâmica do início do século XX, o número de tapeteiras aumentou e nos anos que se seguiram bordaram-se muitos tapetes. Copiaram-se exemplares de outras épocas e criaram-se novos desenhos, embora não se possa afirmar que haja um estilo artístico ou tipologias de desenhos característicos do "ressurgimento".
Os tapetes de Arraiolos seiscentistas tiveram os tapetes turcos e, principalmente, os tapetes persas existentes em solo português como grandes fontes de inspiração, tal como as colchas indo-portuguesas e alguns padrões azulejares. Também os tapetes "indo-persas", de produção indiana, e algumas decorações de tapetes espanhóis terão influenciado a produção de exemplares arraiolenses, no entanto, tanto os tapetes indianos como os espanhóis são também eles inspirações persas e turcas, respetivamente, pelo que terão sido fontes de difusão daquelas decorações, mas não influências decorativas diretas e originais. Mas o orientalismo foi somente uma fonte inspiradora, pois o bordado arraiolense não produziu cópias, apenas aproveitou desenhos, padrões e motivos decorativos orientais, tendo sempre uma premissa determinante: a recriação livre dos pressupostos estéticos e estilísticos da arte oriental.
A primeira metade do século XVIII foi um período de transição no que se refere às composições decorativas e desenhos produzidos. Houve um gradual afastamento das influências orientais, em que apesar de se manter a utilização de motivos e esquemas decorativos de inspiração oriental, começam simultaneamente a surgir motivos decorativos de feição local. Obviamente que essas alterações decorativas e estéticas nos desenhos dos tapetes de Arraiolos não foram mudanças bruscas, foi uma tendência, um processo progressivo.
Quando chegamos à segunda metade do século XVIII, os desenhos orientais desaparecem quase por completo das composições e alguns motivos decorativos de origem oriental surgem estilizados, com formas e dimensões diferentes das tradicionais. A essa época, em que houve um drástico afastamento dos cânones tradicionais de inspiração oriental e em que a esquematização decorativa dos tapetes provinha quase exclusivamente da criatividade das pessoas de Arraiolos, é comum chamar-se "Período Popular", o qual se pode balizar entre 1750 e finais do século XIX.
No final do século XIX, a produção de tapetes de Arraiolos atravessou uma fase crepuscular, tendo estado perto da total extinção. As tapeteiras eram cada vez menos e a produção era quase inexistente. É então que, em 1897, tem início um processo levado a cabo por colecionadores e apreciadores de arte da alta burguesia que veio a ser denominado de "ressurgimento do tapete de Arraiolos", incentivando-se a produção de novos exemplares e a sua divulgação. Esse processo de "ressurgimento" viria a ter em 1917 o seu mais importante evento, com a realização de uma grande exposição de tapetes de Arraiolos no Convento do Carmo, em Lisboa.
Com toda essa dinâmica do início do século XX, o número de tapeteiras aumentou e nos anos que se seguiram bordaram-se muitos tapetes. Copiaram-se exemplares de outras épocas e criaram-se novos desenhos, embora não se possa afirmar que haja um estilo artístico ou tipologias de desenhos característicos do "ressurgimento".
http://www.cultura-alentejo.pt/destaques,0,2162.aspx - 2013-01-24